Oito artistas participaram da Residência Cultural Moldar o Existir: Vivências Mediadas pelo Barro, em 2021, na Oficina Francisco Brennand. Processos de criação distintos foram feitos no museu e em outros lugares do Recife, sob a condução de Renata Felinto, artista visual, doutora em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e professora da Universidade Regional do Cariri (Urca).

O objetivo foi aproximar artistas do espaço de criação da Oficina Francisco Brennand, do universo social ao redor, da Mata da Várzea e dos moradores do bairro. A seleção de participantes foi feita por meio de chamada pública nacional e de convites. Os participantes fizeram trabalhos em diferentes linguagens, a partir dos eixos temáticos “natureza”, “cosmologias” e “território”.

Durante o período de quatro meses, Anti Ribeiro, Antonio Pulquério, AORUAURA, kulumym-açu, S. Ômega, Déba Tacana, Maria da Cruz e DJ Nanny Ribeiro desenvolveram suas propostas individuais de pesquisa. Vários aspectos artísticos foram frutos de investigação, desde a religiosidade e a sonoridade até as matérias-primas do ambiente. Cada artista contribuiu com suas vivências, repertórios e olhares, desenvolvendo um processo ao mesmo tempo individual e coletivo.

Além da coordenação de Renata Felinto, houve também um acompanhamento crítico orientado por Flávia Leme (SP), Edson Barrus (PB) e Ana Lira (PE), artistas que participaram do processo a convite da Oficina.

Anti Ribeiro (Aracaju, 1995)

Anti Ribeiro se propôs a captar as sonoridades presentes na mata, no rio e na Oficina, além de variadas vocalizações humanas e não humanas que estiveram ao seu redor ao longo de seus deslocamentos. Como parte de seu projeto artístico pessoal Movediça, a artista desenhou e estruturou a peça Uivo, uma escultura sonora que mescla captações em tom de mistério.

Antonio Pulquério (Campos Sales, 1967)

A partir de aspectos relacionados ao sincretismo entre religiosidades de matriz africana e o catolicismo, Antonio Pulquério transitou pela Várzea reconhecendo pontos importantes, como os baobás que hoje florescem na praça principal do bairro. Ao finalizar o ciclo de sua residência, o artista realizou uma performance, na qual conduziu transeuntes até essas árvores para compartilhar doces e frutas como um lembrete à celebração.

AORUAURA (Recife, 1997)

A artista criou peças de cerâmica a partir de experimentos com matérias orgânicas encontradas na mata, como restos de esqueletos animais, cupinzeiros, galhos e gravetos. Por meio de uma troca contínua de saberes no espaço da olaria da Oficina Francisco Brennand, AORUAURA utilizou técnicas de esmaltação e queima das peças.

Déba Tacana (Porto Velho, 1988)

Por meio da observação de solos e da coleta de matéria argilosa entre Caruaru, Tracunhaém e Recife, Déba produziu uma série de cacos cerâmicos vitrificados, conectados aos estilhaços das quebras do vidro. Nas margens do Rio Capibaribe, cujo nome vem das capivaras presentes em seu percurso, a artista instalou o conjunto de peças como um mosaico que se derrama em direção à água.

DJ Nanny Ribeiro (São Luís, 1989)

Atenta à ausência de narrativas sobre encontros entre os territórios de São Luís (MA) e Recife (PE), Nanny investigou, por meio de um experimento audiovisual, as encantarias, musicalidades e gestualidades que partem da reverberação de uma memória comum presente nos bairros periféricos de ambas as cidades.

kulumym-açu (Fortaleza, 1995)

Por meio de um processo preparatório de cozimento e fermentação embaixo da terra, kulumym-açu desenvolveu pigmentos naturais a partir de beterraba, açafrão e cenoura. Junto com argila, esses materiais coloridos foram aplicados em telas de algodão cru em forma de grafias e traços. As pinturas resultantes foram expandidas para os espaços transitados, seus cadernos e a própria pele.

Maria da Cruz (Petrolina, 1956)

A mestra convidada Maria da Cruz (discípula de Ana das Carrancas) construiu uma carranca em barro com mais de 2 m de altura. Na rotina de ocupação da Olaria, o cuidado diário com o barro e a troca de saberes com os mestres oleiros da Oficina foram fundamentais para o desenvolvimento do projeto da artista, que vive em Petrolina (PE).

S. Ômega (Igarassu, 1988)

As sobras materiais encontradas na Oficina Francisco Brennand, como tijolos, cacos cerâmicos, tubos metálicos e telhas, foram utilizadas na construção de três cozinhas comunitárias com fogão, forno e queimador. Na finalização do seu processo, Ômega também apresentou a série 7Mucambos, na qual sete telhas em barro foram modeladas nas coxas do artista e queimadas na Olaria, na Oficina, durante o período da residência.