A Residência de 2023 adotou o conceito de "fruto", que engloba ideias de memória da terra, disseminação de conhecimentos e transformação da matéria, a partir das relações entre cultura, território, natureza e memória para novas formas de pensar o mundo.
Com acompanhamento curatorial de Lia Letícia, a Residência foi dividida em dois ciclos, cada um com a participação de cinco residentes. No primeiro ciclo, encerrado em setembro, os participantes foram Álex Igbó (Bahia), Yanaki Herrera (Peru), Moábia Ferreira (Camaragibe), Karuá Tapuia-Tarairiú (Paraíba) e Marissa Noana (Ceará). O grupo da segunda fase foi formado por Adriano Machado (Bahia), Bisoro (Camaragibe), Céleste Richard Zimmermann (França), Libra Lima (Olinda) e Paola Ribeiro (São Paulo) Além de Lia, Rafael RG e Aline Albuquerque participaram da seleção de participantes.
Interessado pelos "territórios afroinventivos", Adriano Machado produziu vídeos e fotos com os oleiros da Oficina, com os integrantes do Maracatu Real da Várzea e com a ferralharia do Mestre Esquerdinha (falecido em 2020), também na Várzea. Com vídeo, performance, pintura e costura, Bisoro investiga relatos de Eduardo Ferreira da Silva, seu avô, que morou em Camaragibe e Caruaru. Céleste está produzindo obras que utilizam como materiais elementos ligados à cultura da cana, como a aguardente, o açúcar e a rapadura. Libra desenvolveu o protótipo de uma audioinstalação construída a partir de sons percussivos e vocais captados em ensaios do Afoxé Alafin Oyó, maracatus e prévias carnavalescas. Paola interagiu com artistas sonoros do Recife, promoveu uma vivência no Paço do Frevo e visitou ruínas em frente ao mar no Cabo de Santo Agostinho.
Igbó é artista de Salvador e trabalha com jogos semióticos de sabotagem de signos ocidentais a partir de técnicas de gravura e lambe-lambe, com o uso de palavras que trazem a ancestralidade para uma perspectiva de futuro. Moábia atua no Recife e em Camaragibe com o Centro Cultural Quilombo do Catucá. Ela trabalha ações artísticas, educacionais e culturais a partir de noções de corpo-território, da Mãe Terra e da voz da natureza. Karuá é produtor cultural indígena do Sertão da Paraíba e mora no Recife, onde faz mestrado em Antropologia com uma pesquisa sobre os antepassados de sua família e a fala-escrita das pedras às margens do Rio Sabugi. Marissa é do Ceará e integra o coletivo Terroristas del Amor. Ela mescla ferramentas gráficas digitais e manuais para alcançar lugares inacessíveis e elaborar uma memória familiar a partir da ficcionalização de um futuro. Yánaki é peruana e vive há nove anos em Belo Horizonte. Desde criança, esteve envolvida com danças populares e atualmente pesquisa questões de maternidade a partir de um ponto de vista de mãe solo e imigrante. Ela também trabalha sua ancestralidade quéchua a partir do passado de sua avó paterna.
Os grupos de residentes fizeram ainda visitas nos seguintes locais:
Ciclo 1
- Ateliê de Iza do Amparo, Olinda
- Comunidade do Bode, Pina
- Sítio Ágatha, Tracunhaém
- Território Tabajara, Paraíba
Ciclo 2
- Sede do Coco de Umbigada, Guadalupe, Olinda
- Ateliê de Paulo Bruscky e Yuri Bruscky, Centro do Recife
- Ateliê de Clélio Freitas, Olinda
- Sede do Maracatu Leão de Ouro e do Cavalo Marinho Boi Pintado, Condado
Todos também visitaram a olaria da Oficina e fizeram trilha na floresta.
Álex Igbó desenvolveu uma parte de sua pesquisa junto com alunos da Escola Municipal Padre Miguel, de Camaragibe. No encerramento da Residência, ele e a criançada hastearam uma bandeira que confeccionaram juntos, com as as palavras "Criança Futuro Presente", no topo do mastro da Oficina Francisco Brennand. Uma das intenções do artista é valorizar o olhar infantil, a opinião das meninas e meninos sobre o mundo, a sociedade e as artes, pois possuem um ponto de vista mais puro e menos contaminado pelos valores convencionais, com menos preconceitos e mais abertura.
Após a conclusão, as atividades ainda continuaram por mais três semanas por meio da Residência Internacional Recife-Nantes, com a presença da artista Juliana Xukuru na França e com a permanência de Céleste em Pernambuco até novembro. Em 2022, o francês Igor Porte e o pernambucano Abiniel Nascimento fizeram esse intercâmbio.