Os Salões de Esculturas, que integram diferentes espaços — do hall de entrada ao anfiteatro, das salas e antessalas aos fornos desativados —, foram escolhidos pelo artista para acolher parte significativa de sua produção cerâmica e foram reabertos ao público após reformas, preservando a composição espacial e artística deixada por ele. Junto à continuação dessa memória, também foram desenvolvidos novos arranjos expográficos, apresentados em uma exposição inédita, nos Salões 1 e 2, que funcionam como portas de entrada para outras percepções.

A mostra retoma o uso dos tapetes cerâmicos e introduz no espaço uma disposição curatorial cujo conceito se materializa a partir da ideia de elipse, essa forma traçada pelo movimento das órbitas dos corpos celestes, que se põe neste espaço de origem fabril criando um grande vazio oval e evocando a forma primordial da origem dos seres e dos mundos, o ovo, coração da obra do artista e da sua Oficina.

Este espaço reúne obras dedicadas à genealogia desse deus pagão da mitologia grega antiga, tão presente na poética do artista que, por meio das narrativas clássicas do Ocidente, mirava o céu e as potências divinas para construir o seu universo cerâmico na Terra.

O núcleo é também formado por obras que, dispostas em elipse, aproximam representações de corpos dilacerados, decapitados e disformes, remetendo ao gesto violento do Saturno que, no enredo mitológico, castra com foice o próprio pai, Urano, e devora até os filhos, recaindo assim na Úbris, a ação desmedida.

Também se aproximam na órbita aqui disposta configurações fabris como garrafas, bules, pregos, porcas e parafusos que, muitas vezes transpassando as formas orgânicas, evocam o Saturno agenciador do tempo e da matéria e surgem como elementos em rotação dilatada e infinita, como partículas brilhantes de seus anéis elípticos.

— Texto curatorial de Rita Vênus —