Cidadela é o nome dado por Francisco Brennand ao conjunto arquitetônico e artístico composto por pátios, jardins, templos, galpões, galerias, praças e demais espaços transformados ao longo de 50 anos pelo artista e seus colaboradores. Tudo isso compõe a imagem do que conhecemos atualmente como Oficina Francisco Brennand, povoada pelas obras do pintor, escultor e muralista pernambucano.

A Cidadela está repleta de suas referências poéticas e históricas, nas narrativas de origem do mundo, com suas formas primordiais e temas cosmológicos. O conjunto tornou-se o habitat de ovos, serpentes, Pássaros Rocca, figuras mitológicas, bichos, frutos e entidades que convivem com a abundante natureza do lugar, fundado a partir das ruínas da Cerâmica São João, a antiga fábrica de tijolos e telhas que pertenceu ao pai do artista. 

No território da Oficina, inscrições literárias estão por toda parte, conformando-a como um lugar regido por um tempo próprio, como um universo em constante processo de transformação.

A presença do artista em um trabalho contínuo de criação, conferiu ao espaço um caráter único no mundo. É uma instituição viva, que une o caráter fabril que a fundou ao museológico, com uma dinâmica de atuação que segue preservada, mas em constante renovação.



Espaços da Cidadela:

Pátio de Entrada
Diante de galpões centenários, o Pátio de Entrada abriga um conjunto de esculturas. Entre elas, os Comediantes (1981), grupo de quatro personagens que dão as boas-vindas aos visitantes. No círculo central, está a Vênus sequestrada (1988), posicionada no meio de uma fonte cercada por 12 cabeças de pelicanos. Perto do muro, há ainda uma estátua em homenagem a João Fernandes Vieira e Pássaros Rocca de 2007, com corpos anatomicamente desconstruídos. As pilastras do muro são intercaladas por sentinelas que alegoricamente protegem a Oficina Francisco Brennand desde 2004.

Pátio do Templo
Espaço central da Oficina Francisco Brennand, que esteve em transformação por décadas, o Pátio do Templo abriga um conjunto de obras fundamentais para se conhecer a poética do artista. O templo em si posiciona-se ao centro da Cidadela e celebra o Ovo como seu coração, ou sua forma primordial, em referência à origem dos seres e aos processos de reprodutibilidade da vida vinculados à fauna, à flora e a uma multiplicidade de elementos que narram a criação de mundos.

Salões de Esculturas
Com mais de 500 obras, os Salões de Esculturas são formados por dez ambientes expositivos distintos, com um conjunto de salas e um corredor de murais de cerâmica, além de um anfiteatro e antigos fornos desativados. Dois dos espaços acolhem exposições temporárias do acervo institucional. Há ainda uma área, no antigo showroom, que reúne a memória industrial de pisos e revestimentos desenvolvidos pela Oficina Francisco Brennand entre 1971 e 2014.

Praça Burle Marx
Jardim projetado para a Oficina pelo renomado artista e paisagista brasileiro Roberto Burle Marx, com uma composição original de plantas nativas de 13 espécies botânicas, espelho d’água e formas sinuosas que contornam o chão. O ambiente reúne esculturas (principalmente de animais) e murais que retratam a natureza, como Paraíso perdido (1989), além de painéis de cerâmica em homenagem a São Francisco de Assis, Ludwig Wittgenstein e Thomas Edison. Com 2.160 m², a praça foi planejada em 1992 e inaugurada no ano 2000.

Accademia
Inaugurada em 2003, a Accademia é destinada principalmente a exposições temporárias. É um espaço climatizado, com equipamentos expográficos modernos, criado para abrigar recortes curatoriais do acervo de obras de Francisco Brennand em várias linguagens, como pinturas, desenhos, gravuras, esboços, croquis e esculturas, além de documentos, manuscritos, fotografias e filmes relacionados ao legado do artista, com o objetivo de ampliar olhares e pesquisas. Inspirado nas formas dos antigos galpões da Cerâmica São João, o projeto é assinado pelo arquiteto Reginaldo Esteves.

Teatro Deborah Brennand
Equipamento com palco, poltronas e climatização destinado à realização de atividades como encontros, cursos, formações, espetáculos e exibições de filmes na Oficina Francisco Brennand. O espaço homenageia a importante poeta pernambucana e companheira de longa data do artista, sua primeira esposa. O projeto é assinado pelo arquiteto Reginaldo Esteves, com luminotécnica original de Peter Gasper e acústica da arquiteta Maria Berenice Lins.

Memorial Ricardo Lacerda de Almeida Brennand
Espaço dedicado à memória do pai de Francisco Brennand, empresário e fundador da Cerâmica São João, fábrica de telhas e tijolos que funcionou entre 1917 e 1946 e onde atualmente está a Oficina Francisco Brennand. Ricardo também foi colecionador de porcelana e amante da floresta, dos pássaros e do piano. No interior do espaço, há um altar, um vitral e objetos de valor afetivo. Na sua área externa, há um grande mural de cerâmica com uma composição floral azul e branca.

Templo do Sacrifício
A morte é um dos temas representados no Templo do Sacrifício, que resgata a memória de povos originários vitimados por guerras colonialistas e grandes navegações, como os incas e os astecas, simbolizados em estátuas dos personagens históricos Moctezuma II e Atahualpa. O lugar é uma recomposição de ruínas abertas de um antigo galpão. Os muros são cercados por figuras semelhantes a caveiras. No local, também está um altar em memória de Francisco Brennand. No centro, há a escultura de um albatroz. Na entrada, fica a Place Paul Gauguin, em celebração ao artista francês que passou parte da vida na Polinésia.

Antiga Ponte de Ferro
Parcialmente destruída na grande cheia que inundou a cidade do Recife em 1975, a ponte de estrutura metálica foi trazida da Louisiana, nos Estados Unidos, no fim do século XIX, por Francisco do Rêgo Barros de Lacerda, antepassado de Francisco Brennand. Atravessando o Rio Capibaribe, a ponte conectava os antigos engenhos São João e Santos Cosme e Damião da Várzea (na margem onde atualmente está a Oficina).

Capela Imaculada Conceição
Construída a partir das ruínas de um sobrado colonial do século XIX, que, antes de ruir, foi transformado em barracão de engenho, escola e sala de cinema para os operários da antiga Cerâmica São João. Em 2006, após dois anos de restauro, o espaço foi inaugurado como capela devotada à Imaculada Conceição, com projeto arquitetônico de Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Colonelli. Na área externa, há uma pia batismal e murais que retratam os santos Lucas, João, Marcos e Mateus.

Lago das Sombras
Com duas portas d’água e rodeado de árvores volumosas, o pequeno açude foi revitalizado pelo artista e nomeado de Lago das Sombras. Em seu centro, foi erigido um pedestal com relevos cerâmicos e sobre ele disposta a escultura Árvore da vida (1996).